- Olhar fixamente para outra pessoa pode ser considerado como um sinal de hostilidade – ou, em certas ocasiões, de amor. Na maioria das interacções humanas o contacto visual é bastante fugaz.
http://www.prof2000.pt/users/dicsoc/soc_i.html#interaccao
Duas pessoas aproximam-se e cruzam-se numa cidade. O que poderia ser mais trivial e desinteressante? Tal evento pode acontecer milhões de vezes por dia mesmo numa única área urbana. No entanto algo ocorre aqui de significativo em termos de interacção social. A "desatenção" demonstrada não é indiferença. É, pelo contrário, uma demonstração cuidadosamente monitorada do que pode ser chamado de estranhamento polido. Conforme as duas pessoas se aproximam uma da outra, cada uma rapidamente perscruta o rosto e a indumentária da outra, desviando o olhar quando se cruzam — Goffman chama isto de "abaixar os faróis" mútuos. O olhar concede reconhecimento do outro como um agente e como um conhecido potencial. Fixar os olhos no outro apenas brevemente e depois olhar para frente enquanto ambos se cruzam vincula tal atitude a uma reafirmação implícita de ausência de intenção hostil.
A desatenção civil é o tipo mais básico de compromissos face-a-face envolvidos nos encontros com estranhos da modernidade. Ela envolve não apenas o uso do rosto, mas o emprego subtil da postura e posicionamento corporais que transmitem a mensagem: "você pode confiar que estou sem intenções hostis" — na rua, edifícios públicos, comboio ou autocarro, ou em reuniões cerimoniais, festas ou outras ocasiões. A desatenção civil é confiança como "ruído de fundo" — não como uma colecção fortuita de sons, mas como ritmos sociais cuidadosamente comedidos e controlados.
A desatenção civil é o processo pelo qual indivíduos que estão no mesmo contexto físico de interacção demonstram ter consciência da presença de outros, sem que sejam ameaçadores ou excessivamente atenciosos.
Em muitas situações sociais, envolvemo-nos com outros naquilo que Goffman chamou interacção desfocalizada. A interacção desfocalizada tem lugar sempre que, num dado contexto os indivíduos mostrem ter consciência mútua da presença dos outros. Isto acontece habitualmente quando um grande número de pessoas se reúne, seja numa avenida movimentada, num teatro sobrelotado ou numa festa. Quando indivíduos estão na presença uns dos outros, mesmo que não falem entre si, mantêm uma constante comunicação não verbal, através da sua postura corporal, facial e gestual.
A interacção focalizada ocorre quando os indivíduos prestam uma atenção directa ao que o outro diz ou faz. Goffman chama encontro à unidade de interacção focalizada. Grande parte da nossa vida quotidiana consiste em encontros com outros indivíduos – familiares, amigos e colegas.
1. “Os brancos no sul dos Estados Unidos eram conhecidos no passado por fixar o olhar nos negros em ambientes públicos, reflectindo uma rejeição dos direitos dos negros de participarem de certas formas ortodoxas da interacção quotidiana com brancos”. (Goffman)
Refere a importância da desatenção civil para que cada um consiga fazer a sua vida.
2. Distingue a interacção focalizada da não focalizada e apresenta alguns exemplos.
3. Refere a importância do corpo: [TEXTO]
a) num contexto normal (de norma) de interacção, explicitando o conceito de estigma (*);
b) imaginando um contexto de speed dating. (**)
4. Justifica a diferença quando se encontram no elevador estranhos vs. amigos.
(*) Os gregos, que tinham bastante conhecimento de recursos visuais, criaram o termo estigma para se referirem a sinais corporais com os quais se procurava evidenciar alguma coisa de extraordinário ou mau sobre o status moral de quem os apresentava. Os sinais eram feitos com cortes ou fogo no corpo e avisavam que o portador era um escravo, um criminoso ou traidor uma pessoa marcada, ritualmente poluída, que devia ser evitada; especialmente em lugares públicos. (Goffman, 1891:5)
(**) Depois de 2000, talvez impulsionadas pelo seu retrato em séries como “O Sexo e a Cidade”, como algo que as fez pessoas glamorosas, os defensores do speed dating argumentam que este economiza tempo. 3 minutos não permitem conhecer ninguém em profundidade, mas serão muito mais que o suficiente para concluir se existe “química” e decidir se são romanticamente compatíveis. Devido à curta duração dos eventos, a decisão é independente de variáveis como a religião, a educação e o rendimento (Kurzban:242). A ideia é que “em alguma parte deste mundo de 7 biliões vive a pessoa com melhor aspecto (best-looking), mais rica, mais inteligente, mais engraçada, mais gentil, que se comprometerá consigo” (Pinker, in Kurzban:228).
Kurzban, R., Weeden, J., (2005), Evolution and Human Behavior, University of Pennsylvania.
http://en.wikipedia.org/wiki/Speed_dating
GIDDENS, Anthony, (1992), As Consequências da Modernidade, Celta Editora, Oeiras.
GIDDENS, Anthony, (2000), Sociologia, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa.
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