24/05/2012

Inquérito aos alunos da Universidade de Lisboa mostra que a selectividade social no ingresso faz-se sentir mais em certos cursos, como Medicina e Belas-Artes

Apesar da democratização do ensino superior nos últimos anos, o acesso à faculdade continua a estar condicionado por factores extra-escolares, como as habilitações académicas, os rendimentos e a ocupação dos pais. Esta foi uma das conclusões a que chegaram Ana Nunes de Almeida e Maria Manuel Vieira, a partir de um estudo sobre o retrato social dos estudantes inscritos no 1.º ano de cada um dos cursos das sete faculdades da Universidade de Lisboa (UL), em 2003/2004. A tal ponto que é mesmo possível afirmar-se que "os mecanismos de reprodução de posições de privilégio ou desfavor entre gerações funcionam implacavelmente no sistema de ensino português".

O facto de os pais com níveis de escolaridade mais elevados estarem sobre-representados entre os mais de dois mil inquiridos da Universidade de Lisboa é apenas uma das expressões da "desigualdade de oportunidades no acesso dos jovens aos níveis mais elevados do sistema educativo". Por exemplo, se 62,5 por cento de toda a população portuguesa entre os 40 e os 60 anos tinha no ano do estudo a 4.ª classe como habilitação máxima, entre os pais dos alunos da UL essa percentagem fica-se pelos 21 por cento.

No extremo oposto, encontram-se os 33 por cento de progenitores com um curso superior, contra uma média inferior a dez por cento no conjunto do país. Sendo que esta selectividade social se faz sentir de forma mais acentuada em determinados faculdades, como Medicina (quase metade dos pais são licenciados), Medicina Dentária, Farmácia ou Belas-Artes. A estes cursos chegam os alunos com notas mais elevadas. E o estudo mostra novamente haver uma sobre-representação das famílias com rendimentos superiores nos alunos com melhores classificações.

Os dados sugerem um "cenário de cumplicidade entre certas franjas sociais e certas faculdades". Por exemplo, apenas 4,6 por cento dos alunos de Medicina são oriundos de famílias com um rendimento per capita inferior a 250 euros mensais, contra 8,4 por cento na Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação.

A ocupação profissional dos progenitores é outra variável determinante. Em 2003/2004, dois terços dos novos alunos eram oriundos de "agregados familiares detentores de elevados recursos técnico-profissionais". Os filhos de "operários e artífices" e de "trabalhadores não qualificados" representavam 17 por cento. Estudos anteriores demonstraram que esta proporção se agrava ao longo da faculdade, com as classes mais elevadas a ganharem peso entre os que concluem o curso e as restantes a diminuírem".

Fonte: PÚBLICO, 15.03.2007

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